


Umbanda é pé no chão! Mas, por quê?
Todo Umbandista já deve ter ouvido a frase “Umbanda é pé no chão”. Mas será que todos sabem o porque de ficarmos descalços em nossos terreiros? São três motivos principais. O primeiro é que o solo representa a morada dos nossos antepassados e quando estamos descalços tocando com os pés no chão estamos entrando em contato com estes ancestrais e, consequentemente, com todo o conhecimento e a sabedoria que esse passado guarda. O segundo motivo pelo qual tiramos os calçados é o respeito ao solo sagrado do terreiro. Imagine que vir da rua com os sapatos sujos e entrar com eles onde nossos trabalhos espirituais são realizados seria como alguém entrar em nossa casa carregando uma montanha de lixo que vai caindo e se espalhando por todos os cantos. Diante desta situação você diria o quê? No mínimo que essa tal pessoa não tem respeito por você ou pela sua casa. O terceiro motivo é o fato de que naturalmente nós atuamos como “para-raios” e ao recebermos qualquer energia mais forte, se estivermos descalços sem nenhum material isolante entre nosso corpo e o chão, ela automaticamente se dissipa no solo. É uma forma de garantir a segurança do médium para que não acumule ou leve determinadas energias consigo. Além de tudo isso podemos dizer também que realizar nossos trabalhos espirituais descalços é uma forma de representar a humildade e a simplicidade do Rito Umbandista.
Vale lembrar que no início este costume, nos cultos de origem africana, tinha outro significado. Os pés descalços eram um símbolo da condição de escravo, de coisa,uma vez que o escravo não era considerado um cidadão e estava, por exemplo, na mesma categoria do gado bovino das fazendas. Quando liberto a primeira coisa que o negro procurava fazer era comprar sapatos que eram o símbolo de sua liberdade e, de certa forma, faziam com que ele fosse incluso na sociedade formal. O significado da “conquista” dos sapatos era tão profundo que muitas vezes eles eram colocados em lugar de destaque na casa para que todos os vissem. No entanto, ao chegar ao terreiro, espaço que havia sido transformado magisticamente em solo africano, os sapatos tornavam-se novamente apenas um símbolo de valores da sociedade branca e eram deixados do lado de fora. Ali os negros sentiam-se de novo na África e podiam retornar à sua condição de guerreiros, sacerdotes, príncipes, caçadores, etc.
Tenho certeza que agora entrar descalço no terreiro terá um outro valor e sentido. Não é mesmo?
Dentro das várias ritualísticas que se desenvolvem nos terreiros de Umbanda é comum vermos, principalmente no início e término dos trabalhos espirituais, o corpo mediúnico com os joelhos no chão. Alguns veem esta postura como arcaica e sem sentido, porém, nunca se deram ao trabalho de analisarem detidamente tal comportamento.
É de conhecimento geral que as primeiras religiões do globo terrestre já inseriam a genuflexão em seus rituais como exteriorização de respeito junto ao Criador e também manifestação de humildade que todos devem ter , seja para com o Divino, seja para com o próximo. Da mesma forma, o ato de postar-se faz ver aos fieis que assistem uma manifestação de religiosidade a seriedade, o respeito e a simplicidade do sacerdote e dos médiuns frente ao plano espiritual superior. A implantação do ajoelhar-se tem como finalidade mostrar a Deus e à Espiritualidade todo o nosso carinho, obediência, respeito e amor, além do quanto somos pequeninos diante do universo criado por Ele. Também serve para passar à assistência que aquele espaço de caridade tem a exata noção do papel que desempenha como instrumento de trabalho dos bons espíritos.
Infelizmente, é do conhecimento de todos que ao lado de criaturas humildes, simples, meigas e caridosas que estão sempre dispostas a dar seu suor à Umbanda existem outras tantas orgulhosas, vaidosas e “auto suficientes” que procuram a todo custo imporem-se aos demais, maximizando suas “qualidades” e minimizando as virtudes alheias. Ostentam falsas conquistas querendo submeter todos aos seus caprichos. Contudo nada mais doloroso e incomodo para essas pessoas do que ficar em posição de subserviência e aparente inferioridade. Tal postura lhes sangra a alma e lhes oprime o pétreo coração. Suas visões ofuscadas não conseguem enxergar que tal rito é para o seu próprio bem, para sua própria libertação dos sentimentos mesquinhos e posterior elevação espiritual, pois auxilia na quebra da vaidade e da soberba.
Alguns até podem dizer que ao postar-se de joelhos o médium pode ter em mente pensamentos diametralmente opostos àquela posição. Mas aí, meus irmãos, é que se inicia o processo de assepsia e lapidação dos arrogantes e vaidosos, levados a efeito pelos amigos de Aruanda que, assim, dão luz a estas pessoas reconduzindo-as ao rebanho Divino. Joelhos ao chão sim !!
